terça-feira, 29 de maio de 2007

Dúvida

Reparem como Tomé parece não ter olhos.
Aliás, nenhum dos personagens - à excepção, nem sequer muito clara, do próprio Cristo - parece ter olhos.
Ou antes, não é evidente que não os tenham, mas parecem escuros, toldados por uma dúvida, cheios de um negro indistinto.
Como se mais uma vez nos fosse dito que a fé não vem do olhar, do que se vê e se percebe.
A cena da incredulidade de Tomé é assim uma quase redundância, um exemplo um pouco enganador se não olharmos com atenção. Não podemos pensar: "Tomé viu, Tomé pôs lá a mão". A 2000 anos e uns tantos Papas Borgia-style de distância, isso torna-se irrelevante.
A incredulidade de S. Tomé, Caravaggio

O que fica, então, é outra irrelevância. A da necessidade do olhar físico. Torna-se supérfluo que Tomé tenha ou não tocado. O que não é supérfluo, isso sim, é o sinal de que Ele estava lá, independentemente do dedo ensanguentado do Tomé, da imagem que lhe terá ou não entrado pela retina.

E, mais importante, que a percepção da presença do Messias é independente do olhar do homem.

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